Dedé: um dia perfeito em Lisboa
Dia Mundial do Turismo 2021 | #TimeToEmbrace #TimeToBe
Comemoramos o Dia Mundial do Turismo. Nos últimos anos, a indústria do turismo teve uma enorme expansão e crescimento, por isso é importante sublinhar como a abertura e a inclusão desempenham um papel crucial na melhoria das relações sociais, culturais e económicas. Mas o melhor é deixar que outras pessoas falem sobre a sua vida em Portugal…
Apresentamos Dedé, brasileiro, um chef e pequeno empresário que vive em Lisboa.
Quando olhamos para Dedé, a primeira coisa que nos chama a atenção é a sua descontração. Gestos largos, gargalhada solta, t-shirt e calções fazem parte da sua indumentária habitual.
“Sempre me senti muito bem em Portugal. Apesar de eu não vir de uma família influente, consegui chegar onde queria. Aqui valoriza-se o bom nome das pessoas e é fácil começar um negócio. Tudo é transparente. No mundo dos negócios, principalmente, uma aparência cuidada também tem o seu valor. Prometi a mim mesmo que, assim que eu assinasse o contrato de arrendamento para o café e para a casa, andaria sempre de roupa colorida e descontraída. E surfar a qualquer momento.”
Durante toda a sua vida adulta, a cozinha foi o palco e oficina principal de Dedé. Nascido no Brasil, veio para Portugal com 18 anos com a mãe e os irmãos. Os estudos na Escola de Hotelaria do Estoril abriram-lhe as portas dos melhores hotéis de Lisboa, Sintra, Cascais.
"Fiquei vários anos no mesmo hotel e eu era, de facto bom. Tive o discernimento de perceber que eu era bom porque fazia a mesma coisa há muitos anos."
Foi nesse momento que Dedé soube que tinha de sair de Portugal e explorar a sua curiosidade para aprender novas cozinhas, novas técnicas e, até mesmo, novas línguas.
Passou pelos Estados Unidos (Nova Iorque), Alemanha, Finlândia, Austrália, Indonésia, Quénia, sempre em busca de algo mais. Depois de 10 anos fora e, com o mundo inteiramente ao seu dispor, Dedé decidiu vir morar para o Algarve, onde teve a experiência de trabalhar num restaurante com duas estrelas Michelin.
"Estava feliz por voltar, mas atenção: mudar é sempre difícil. Já tinha tido um negócio próprio em Nairobi, alcancei bastante sucesso lá, fui inclusive nomeado Chef do Ano. Havia cartazes com a minha fotografia espalhados pela cidade. E decidi vir trabalhar para a cozinha de um restaurante de um hotel extraordinário, em que a minha primeira função era abrir ostras. Não foi fácil sair de um patamar elevado para começar quase do zero."
Com otimismo e determinação, Dedé continuou a esforçar-se no seu trabalho, sempre na certeza que Portugal seria o local onde poderia cumprir os seus objetivos de carreira.
"A verdade é que aqueles 8 meses no restaurante com estrelas Michelin provaram-me que, afinal, não era bem isso que eu queria para a minha vida", conta Dedé, entre risos, com uma franqueza desarmante.
Sabia que queria Lisboa e queria ter um espaço pequeno. Queria instalar-se num bairro típico como a Graça ou a Lapa, e montou um pequeno café com pequeno-almoço e brunch.
"Eu sempre tive o sonho de ter um negócio meu. Um barzinho na praia. Não aconteceu, mas não estou assim tão longe. (risos) Cresci a ver a minha mãe a trabalhar no seu próprio bar junto à praia. Herdei dela essa vontade. EU tinha uns 12 anos, passava o tempo entre o bar e o mar. Quando estava a surfar, a minha mãe aumentava o volume da música do bar e eu ouvia do mar. Lembro-me de estar em cima da prancha e ao longe ver a minha mãe no bar a receber amigos, a conversar com as pessoas que bebiam um copo. Foi muito claro: é isto que eu quero para a minha vida."
Dedé também conta que, após aquela insegurança típica do início de um projeto, houve um momento que marcou a sua vida em Portugal. Um dia aproximou-se do café e viu que havia uma fila de pessoas à porta. Emocionado, percebeu então que tinha feito uma aposta certeira.
“A vida corre-me bem e vou abrir dois novos espaços muito em breve. Vocês vão ter de me aturar durante muito tempo.”
Quando lhe perguntámos o que era um dia perfeito, Dedé disse que essa era a pergunta mais fácil:
"Acordar às 5 da manhã, ligar para o meu irmão que mora na linha de Cascais, irmos os dois surfar. Depois, chegar a Lisboa pelas 8h30, vir ao café, ver se está tudo em ordem, tomar o pequeno-almoço em tranquilidade. Faço o meu trabalho, os eventos de catering, as minhas consultorias e depois vou almoçar com amigos. Se o tempo estiver bom de tarde, volto para a praia e surfo mais um pouco. Chego a casa pelas 19h00 e termino o meu dia. Isto é um dia perfeito para mim."
Segue-se a pergunta inevitável: quantos dias perfeitos tem em Lisboa?
"Vocês agora vão todos odiar-me, mas eu diria que tenho 5 dias por semana perfeitos".
Nada mal, Dedé. Nada mal.
Fotografia: @nashdoeswork